2.7.16

LUIZA BRUNET E A SÍNDROME DA GAIOLA DE OURO

Por NATHALI MACEDO - Via DCM -


Luiza Brunet teve quatro costelas quebradas pelo então companheiro, o empresário Lírio Albino Parisotto, segundo o jornal O Globo. Ainda segundo a coluna, o empresário teria espancado a ex-modelo quando ela o acompanhava no evento “Homem do Ano“, em Nova York.

Nada novo sob o sol. Uma brasileira sofre violência doméstica a cada cinco minutos.

Mas quando começou a violência sofrida por Luiza? Neste episódio, em um apartamento em Nova York?

Muito antes, eu diria.

Parisotto está em 28º lugar no ranking de homens mais ricos do Brasil, segundo a Revista Forbes. Luiza, por sua vez, é considerada uma das mulheres mais belas do país.

Neste ponto, precisamos reconhecer: belas mulheres têm sido consideradas parte integrante da fortuna de homens bem-sucedidos, no Brasil e no mundo.

Um homem rico precisa de seu bibelô, de um símbolo sexual que ratifique que ele é, de fato, afortunado. Ter uma mulher dentro dos padrões, desejada pela maioria dos homens – e, consequentemente, objetificada – é parte da estranha e cruel etiqueta da alta sociedade masculina.

Você se tornou um homem rico? Agarre a sua Barbie, compre-a, domestique-a e, por fim, exiba-a.

Woody Allen, de 76 anos e que tem como companheira a filha adotiva de sua ex-mulher, sabe disso. E, para ser ainda mais óbvia, sabem disso o presidente interino Michel Temer e sua jovem e bela esposa Marcela.

O relacionamento entre um homem que é símbolo de riqueza e uma mulher que é símbolo de beleza não pode deixar de ser problemático, porque o “amor”, afinal, é ofuscado pelas convenções sociais que colocam a mulher como parte do status do qual necessita este homem e vice-versa (somemos isto à cultura patriarcal que ainda trata a violência doméstica como um crime menos grave e que quase nunca passa de uma suposição).

Para um homem rico, relacionar-se com uma mulher bela não é um mero acontecimento, é uma escolha que guarda muitas razões. Tanto que há, inclusive, um site de “relacionamentos” (eu o chamaria de um site facilitador de abusos) que conecta mulheres jovens e belas a homens milionários (sim, esse é o slogan): é o Diamond Club, que convence mulheres jovens e cheias de vida de que ter um homem rico é sempre uma boa ideia, porque, afinal, a riqueza está ligada à boa educação, que, por sua vez, está ligada à não violência.

Não é bem assim, e Luiza Brunet sabe disso. A violência contra a mulher apenas muda de figura – a depender de fatores como raça e classe social – mas nenhuma de nós está imune.

A violência contra Luiza começou, portanto, exatamente onde começa a violência sofrida por cada mulher fora das estatísticas de pobreza: quando a sociedade passou a encará-la como um enfeite, como uma mulher de fina estirpe que merecia e tinha por obrigação um companheiro dentro dos padrões estéticos e materiais, aprisionando-a, sutil e cruelmente, numa gaiola de ouro.

Parisotto declarou, em uma nota floreada e bem escrita, que “lamenta a distorção dos fatos.” Em quem a justiça acreditará? Em uma ex-modelo rotulada como símbolo sexual ou em um ricaço que é convidado para o evento Homem do Ano?

Nós, mulheres, sabemos a resposta.