14.9.16

AGORA, VEZ DOS CÚMPLICES

CARLOS CHAGAS -


O dever de casa foi feito pela metade. A Câmara cassou o mandato de Eduardo Cunha, acusado de quebra do decoro parlamentar. Foi punido mais pelo conjunto da obra do que por haver mentido, negando a existência de contas na Suíça. Perdeu o mandato também por haver desviado recursos dos cofres públicos, participado do petrolão, atropelado leis, formado uma quadrilha que aproveitou-se do poder para lavar dinheiro público e muita coisa a mais. Até agora processado no Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado responderá perante a primeira instância, no caso, no Paraná, sob a vigilância do juiz Sérgio Moro, para quem foram enviados os autos de diversos processos abertos contra ele.

Tudo indica que não escapará das condenações, devendo parar na cadeia, além de precisar repor o prejuízo ao tesouro e às empresas que saqueou.

Termina aqui essa novela de horror? Nem pensar, porque o comportamento do antigo presidente da Câmara não se desenvolveu sozinho. Junto com ele, no mínimo dezenas de parlamentares e empresários contribuíram para as práticas criminosas. Se ainda não está tudo documentado, logo o Ministério Público, a Polícia Federal e as delações premiadas de seus parceiros revelarão. Mesmo aqueles que o condenaram na noite de segunda-feira tem contas a ajustar com o Judiciário.

Aqui o episódio se complica: haverá coragem e condições para a Justiça seguir seu curso? Disporão as instituições de vontade e meios para apurar e condenar os cúmplices de Eduardo Cunha? Boa parte dos 450 algozes do ex-deputado terão dormido mal, na noite passada, mesmo contando com  a rotina do esquecimento e o auxílio da permanente impunidade. Os cúmplices da roubalheira continuada, de diversos matizes, serão tão culpados como o chefe. Merecem o mesmo destino.