16.9.16

O "DEDO DURO" AGORA É PREMIADO, DA EXECRAÇÃO À GLÓRIA

ALCYR CAVALCANTI -


Em um universo da controvérsia, o delator figura amaldiçoada, execrada comparada ao "Cão" agora nos novos tempos envelhecidos do século XXI foi reabilitado e quem sabe poderá ser no futuro glorificado. Há algumas décadas atrás, no auge da "Guerra Fria" nos Estados Unidos houve uma caçada às bruxas, no estilo da Santa Inquisição onde milhões de pessoas foram presas, perderam seus empregos, alguns cometeram suicídio. Foi a época do "Macartismo" em homenagem ao senador McCarthy que comandava a Comissão de Atividades Antiamericanas que dizimou a intelectualidade norte americana. Foi a época em que o "Dedo Duro" colaborou com o sistema da época, alguns por sobrevivência, outros por convicção, outros por covardia ou mesmo por falta de caráter. Um diretor de cinema muito famoso ficou marcado em definitivo por ter delatado vários amigos, que encerraram suas carreiras e não conseguiram mais nenhum tipo de trabalho.  Seu nome Elia Kazan, que fez um filme tentando justificar (como se fosse possível) a prática da delação. Kazan era um excepcional cineasta e tentou em sua magnífica obra "Sindicato dos Ladrões" justificar a nefanda prática. O delator do filme era interpretado pelo ator mais famoso da época, e um dos mais famosos de todos os tempos, Marlon Brando.

Em tempos não muito distantes centenas, ou milhares de delatores colaboraram com o regime instaurado na época, muitas prisões, muitas carreiras abortadas, muitas vidas foram retiradas. Com  tentativa de volta à democracia em 1985 parece que isso tudo havia terminado, mas muitas coisas vão e voltam, sob outras formas. Interrogatórios feitos sob tortura, fazem o condenado falar tudo o que sabe, mas também o que não sabe. Relatos fantasiosos são feitos para salvar a própria pele. Um delegado famoso pela "eficiência" costumava dizer quando o preso resolvia ficar calado: "bota no pau de arara que ele abre o bico". Há mais ou menos dois anos atrás veio à tona o "Caso Amarildo" em que o pedreiro Amarildo de Souza não quis falar e foi torturado até a morte. O "interrogatório intensivo" foi intensivo demais.

Tempos se passaram e aqui em nossas terras a figura do delator volta a ser endeusada sob um eufemismo "Colaboração Premiada". Voltaram os tempos sombrios, em vez de provas fica palavra, a narrativa, feita em muitos casos para salvar a própria pele. Penas são reduzidas, processos são encurtados, provas difíceis de serem conseguidas são dispensadas, em troca da delação e da redução das penas. Na sabedoria das ruas e dos morros cariocas o delator, o X-9, o alcaguete é a figura mais odiada e mais temida, e sua imagem é comparada à imagem demoníaca, "O caguete é a imagem do cão" repetem à exaustão, o elemento em questão é prontamente executado em um arremedo de julgamento. Mas os tempos são outros e o "Dedo Duro" agora é premiado.