5.9.16

SOBRE A QUEDA DE DILMA

EDUARDO PAPA -


Não é algo que me mobilize muito, mas de tanto ver análises que considero errôneas vou dar pitaco. Erram os que dizem que o golpe foi urdido por um motivo estratégico, em que a grande burguesia afastou o governo popular para implementar medidas impopulares contra o trabalhador. Claro que não, mesmo porque o governo popular do PT já vinha retirando alegremente esses direitos. Infelizmente as lideranças políticas que derrubaram o governo não tem essa visão de grande política, acham que aqueles abutres que fizeram fila para declarar seu voto pelos filhinhos, pelo papai do céu e tudo mais tinham alguma preocupação republicana? Inocentes! O que moveu a turma foi uma nova configuração na divisão do espólio.

Da mesma forma que na queda de Collor o pano de fundo foi o delicado equilíbrio na relação fisiológica indissolúvel estabelecida entre os poderes em nossa república. Assim como a decisão de Collor de centralizar toda a corrupção nas mãos de PC Farias, desarranjando acertos entre potentados da nação, foi a sua desgraça, a gula desmedida do PT parece ter assustado seus aliados, que temerosos de serem excluídos da comilança, armaram uma nova composição majoritária no parlamento e descartaram a presidenta, simples assim.

No tal presidencialismo de compromisso, qualquer presidente que perca a maioria cai, e alcançar e manter a maioria parlamentar no Brasil como sabemos se faz com malas de dinheiro ou a concessão de satrapias no Estado.

Dá pena de ver pessoas com essa análise ingênua de que os caras do pato gigante e os quatrocentões não aceitavam o Lula por sua origem humilde e derrubaram o PT por ódio a uma suposta ascensão social e política do povo em seu governo. Bobagem, conviveram muito bem, tocando a mesma agenda até o último minuto do governo Dilma. Brigaram mesmo foi na hora da partilha do butim, com a perspectiva clara do PT de buscar uma preponderância absoluta sobre os parceiros, não fosse isso estariam juntinhos até hoje, da mesma forma que provavelmente estarão em breve novamente.

*Eduardo Papa é professor, jornalista e artista plástico, colaborou com as administrações de Leonel Brizola e do PDT no Rio de Janeiro é ativista do SEPE com atuação em movimentos sociais no Rio como contra a privatização da Marina da Glória.