29.10.16

DECLARAÇÃO DE VOTO (A QUEM INTERESSAR POSSA)

PEDRO PORFÍRIO -

Declaro para os devidos fins que finalmente cheguei a um candidato a prefeito que pode merecer o meu voto solitário aqui neste Rio de Janeiro.

Devo essa escolha ao "pega" da sexta-feira, quando os dois postulantes acabaram no ringue da Rede Globo, o que deve ter sido costurado por quem pode mais do que o papa Macedo, como sempre um blefe que vem sabendo formar rebanhos desde os tempos pustulentos da ditadura perversa, quando reunia gatos pingados no coreto do Jardim do Méier, oferecendo céus e terras.

A simples rendição do dono da Record, depois de golpes cruzados da concorrência ainda hegemônica já mostrou que estas gerações transgênicas caem em qualquer conversa fiada e não se enrubescem ante o cinismo e a hipocrisia servidos por gregos e troianos.

Crivella acabou se revelando vulnerável à geleia geral, ao loteamento do poder, a todos esses maus hábitos que mantém o padrão Eduardo Cunha/Piciani/Eduardo Paes, nesta outrora capital cultural do país.

Já o Freixo jogou conforme a conveniência que a oportunidade sugeria, mas não deixou de expor um despreparo preocupante. Sabendo, como todos sabem, que a saúde é a deficiência mais dramática dos serviços públicos, ofereceu o convívio das clínicas de família com especialistas (encontráveis em hospitais) e acabou por fazer delas mais um posto de saúde sem a alma do médico generalista e familiarizado.

Vantagem para ele na promessa de que vai passar o rodo nesses cancros mascarados de "organizações sociais", que estão no pódio das negociatas com verbas da saúde, hoje a maior lapada do orçamento federal, com reflexos contábeis expressivos nos demais entes da federação. O que lhe faltou dizer, porém, é que enquanto os médicos não ganharem o bastante para ter DEDICAÇÃO EXCLUSIVA, a saúde pública continuará sendo híbrida, ambígua e ineficaz: o estado faz de conta que paga e as corporações fazem que trabalham.

Vantagem também no caso do baronato das empresas de ônibus, que mantém prefeitos e vereadores no bolso. Nesse caso, coragem teve o velho Brizola, que encampou os trustes dessa concessão. Aliás, nos decantados Estados Unidos da América, paraíso do capitalismo, a maior empresa de transportes públicos (ônibus e trens) é estatal. O Freixo terá peito de reacender essa chama?

O que me causa náusea é alguém dizer que só VAI GOVERNAR COM TÉCNICOS. Isso não aconteceu nem nos idos tenebrosos do militarismo. Se a função é pública, logo é política, isto é, exige-se traquejo, visão, compromisso e patriotismo, diferente da empresa privada.

Também não acredito em quem se considera a pérola única num sistema de poder em que os insaciáveis interesses alugam mandatos a peso de ouro e conseguem o que querem por qualquer um desses podres poderes. É um ledo engano pensar que o povaréu vai desembainhar o canivete para um confronto com as máfias instaladas.

No entanto, é melhor tentar qualquer coisa diferente, algo que traga de volta o respeito aos governantes e viabilize a administração dessa cidade de sete fôlegos.

Daí, minha decisão de optar pelo 50 – o novo, o que me passa mais sinais exteriores de honestidade e garra.