15.3.18

EXECUÇÃO COVARDE DE UMA LUTADORA DESTEMIDA

ADERSON BUSSINGER -


A noite de ontem, 14 de março de 2018, mês da luta internacional das mulheres e da emblemática morte do estudante Edson Luiz, foi novamente marcada de vermelho, mas desta vez do sangue da ativista e vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). É sempre assim, isto vem de longe, sobretudo neste país que ocupa o topo das estatísticas de feminicídio, violência e mortes violentas contra mulheres.

Mas no caso de Marielle, temos não somente mais um assassinato, mas sim um grave (e covarde) ataque contra todas as mulheres, contra todos e todas militantes de Direitos Humanos e críticos da intervenção militar no Rio de Janeiro, por parte do sistema civil-militar à frente do Estado brasileiro no Rio de Janeiro, em particular. É mais um crime contra um favelado, uma negra, sendo que uma favelada politicamente consciente (o que mais assusta os poderosos) que, além da indignação, exercia a ação política e social contra as injustiças sociais que, bem sabemos, está na fonte e origem da violência urbana e também rural.

Marielle foi executada após participar, inclusive, de uma reunião no centro do Rio de Janeiro em que discutia a violência contra jovens negros e morreu convicta de que a violência estatal, intervenções militares não são e nunca furam solução, muito pelo contrário, porquanto se faz das cidades, como um todo, lugares do medo e do pânico, por mais que parte da classe média pareça se satisfizer com a tal seletiva “sensação de segurança”...

Termino este texto-desabafo, registrando que a Anistia Internacional já publicou este ano mais um relatório alertando sobre a situação de vulnerabilidade no Brasil dos militantes, ativistas, como Marielle, de Direitos Humanos. Por último registro minha dor pessoal, pois a conhecia desde a equipe do Deputado Freixo, (outro jurado de morte pelo mesmo sistema), tendo pessoalmente, quando era vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, integrado com ela o Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, onde também ela, sempre altiva, fazia realmente a diferença, em postura, discurso e pratica. Por ser assim, lutadora, destemida, ao lado de seu povo negro e favelado, o terror de Estado lhe cobrou o preço da vida. Covardemente como sempre.

* Aderson Bussinger, advogado, conselheiro da OAB-RJ, integra o MAIS - Movimento Por Uma Alternativa Independente Socialista. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais/UFF, colaborador do site TRIBUNA DA IMPRENSA Sindical, Diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ, membro Efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros-IAB.