15.4.18

JORGE SENTOU PRAÇA NA CAVALARIA: OGUM NA GUERRA DO PARAGUAI

LUIZ ANTONIO SIMAS -


Aqui vai um pequeno trecho do livro "Guerreiro" (no prelo), com fotos maravilhosas do Cesar Fraga e textos meus sobre o culto a São Jorge em diversos locais do mundo. Nos dias 17 e 19 de abril, darei um curso sobre São Jorge tendo como referência a epistemologia das macumbas e os conceitos que eu e Luiz Rufino desenvolvemos no livro de ensaios Fogo no Mato (lançamento no dia 12 de maio). Segue no final o link para as inscrições no curso (vagas limitadas).

Um trechinho do meu texto sobre Jorge na Cavalaria:

Os chamados Santos guerreiros são, em geral, personagens dos primeiros tempos do cristianismo. Há um imaginário comum entre eles: foram militares do exército romano, martirizados em virtude da defesa da fé cristã e da recusa em professar a fé nos deuses de Roma. Ficaram genericamente conhecidos como os “athleta Christi”: atletas de Cristo.

Os estudos sobre os santos militares indicam um aumento da devoção aos mesmos em tempos de crise e guerra. É o caso da Igreja Ortodoxa, em que a crise do Império Bizantino foi acompanhada pelo aumento da devoção aos militares, conforme vasta iconografia registra. Inserem-se neste caso os cultos a São Jorge, São Demétrio de Tessalônica, São Teodoro (general), e São Teodoro (recruta).

A difusão do culto a São Jorge no Ocidente está intimamente ligada à realização das primeiras cruzadas. A imagem do santo a cavalo, com o elmo e a lança, generaliza-se. O cavalo passa a ser praticamente indissociável da figura do combatente. São Jorge vira, inclusive, o padroeiro de diversas ordens de cavalaria pelo mundo, como é o caso da Ordem da Jarreteira, na Inglaterra, e da Ordem Imperial e Militar de São Jorge, criada na Rússia, por Catarina II, no século XVIII.

É tradição no Exército brasileiro, herdada da colonização portuguesa, que além da padroeira geral dos militares (a Imaculada Conceição), cada arma que compõe o efetivo militar tenha o seu santo padroeiro. Santo Inácio de Loyola, por exemplo, é o padroeiro da Arma da Infantaria, e Santa Bárbara é a padroeira da Arma da Artilharia. São Jorge é o padroeiro da Cavalaria.

A Cavalaria brasileira se origina do Regimento de Dragões Auxiliares, em Pernambuco, que lutou na guerra contra os holandeses no século XVII. No século seguinte, criou-se, no Rio de Janeiro, o Regimento de Dragões. No sul, durante as lutas em torno da Colônia do Sacramento, criou-se o Regimento de Dragões do Rio Grande para guarnecer as fronteiras. Durante o II Reinado, a Cavalaria participou ativamente nos conflitos na fronteira. Em 1851/52, o 2º Regimento de Cavalaria integrou as tropas que invadiram o Uruguai, culminando com sua participação na Batalha de Monte Caseros, na qual foi derrotado o presidente argentino Juán Manuel Rosas. Na Guerra do Paraguai, o Brasil combateu com seis divisões de Cavalaria lideradas pelo General Manuel Osório, futuramente elevado à condição de patrono da arma.
(...)

Vale notar que é forte na umbanda o mito de que Ogum/ São Jorge teria lutado na Guerra do Paraguai ao lado das tropas brasileiras (compostas por muitos negros). Vários cantos litúrgicos registram a presença de Ogum nos campos do Humaitá, fortaleza paraguaia que foi um dos cenários mais importantes do desenrolar da guerra, conforme registra o famoso ponto de umbanda:

Bandeira branca de Ogum
Está içada no Humaitá
Representando o general de Umbanda
Ogum vence demanda em qualquer lugar.