12.6.18

A FORÇA DA FAMÍLIA PEDRO RESSUSCITA NA MASMORRA DO CANDIDATO LULA

ANDRÉ MOREAU -


Bom cabrito é aquele que não berra.

A frase de efeito influenciou gerações de nordestinos como uma espécie de proteção nas boas lutas pela sobrevivência, na tentativa de superar a seca, a fome e as doenças.

O aprendizado visa elevar a auto-estima do povo no enfrentamento das desigualdades no sertão, geralmente impostas por coronéis ricos, donos dos maiores açudes de água potável, das grandes plantações, dos enormes rebanhos de gado, e das grandes fortunas, em detrimento da população trabalhadora.

Rever a realidade do Nordeste, mais especificamente a partir de 1909, na histórica expansão do Cangaço no Cariri, ajuda a entender a força do povo diante das injustiças sociais e o problema do controle da água que hoje vem atingindo a população mais pobre da Baixada Fluminense, decorrente da privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (CEDAE) e da paradeira nas obras do Guandu 2.

Ajuda a enxergar o que havia por trás da cortina de fumaça denominada “anti-corrupção”: as conseqüências do desmonte de diferentes regiões do País e indica o que pode vir a acorrer, caso os candidatos de esquerda se recusem a apoiar uma unidade do campo progressista, que respeite o clamor popular por direitos humanos, reconhecendo, por exemplo, que os mais pobres não têm como virar a página do golpe de Estado.

Fernando Henrique Cardoso (FHC) é a figura que melhor representa os que enriqueceram usurpando as riquezas naturais do Povo brasileiro. Apesar de ter cuidado do acervo presidencial e de ter dado palestras a convite de empresários da rede neoliberal, não pode ser cobrado como Lula.

Afinal, além de uma espécie de guru, FHC foi protagonista de um dos principais capítulos da narrativa de ódio do Jornal Nacional (JN), intitulado “impeachment”. Por isso segue solto, expandindo a rede neoliberal entre familiares e aliados de diferentes paraísos fiscais, lépido e fagueiro. Isso ficou claro no recente depoimento de FHC à justiça sobre o acervo presidencial e as palestras, assim como fez o ex-Presidente Lula, foram declaradas no Imposto de Renda.

A diferença é que segundo a convicção do juiz de piso, o Presidente negro aos olhos dos africanos, naturalmente pelas atitudes, não só pela origem pobre, “recebeu por fora”, ao contrário do príncipe dos sociólogos e por isso, ao que tudo indica, será mantido na masmorra de Curitiba, condenado pelo Tribunal da Inquisição.

A indústria da seca na Baixada Fluminense

O desabafo da desempregada Marcilene Gomes à repórter Maria Luisa Melo, reproduzido na matéria intitulada, “Água é artigo de luxo para 200 mil”, publicada no Jornal do Brasil (10), nos faz refletir sobre a realidade de tantas pessoas que viveram a “indústria da seca” no Nordeste que morreram doentes ou entraram para a História graças as suas respectivas obstinações: “Não temos outra saída: ou nos arriscamos bebendo água do poço ou ficamos com sede. Desempregada não tenho como comprar água mineral para três filhos”.

Trata-se de uma das conseqüências da mudança do sistema de governo, imposta de forma criminosa, a partir do impeachment, sem mérito, que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff. O fato se soma ao número de doentes que morrem pelos corredores dos hospitais da Cidade de Niterói, lotados ou em salas de cirurgias desprovidas de insumos básicos. Hoje os niteroienses mais pobres padecem com a falta de repasses à saúde que eram de R$ 5 milhões por ano até 2014 e agora foram reduzidos a zero. O curioso é que o drama da falta de saúde será objeto de um inquérito instaurado por agentes do Ministério Público (MP).

Será que os ilustres procuradores do MP pretendem ouvir os ricos empresários que ajudaram a induzir a crise de 2013 até 2014 promovendo demissões dos trabalhadores dos estaleiros, em massa, para dar veracidade a narrativa de ódio que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff?

Quem sabe dirijam inquéritos para apurar a responsabilidade dos membros do governo ilegítimo no congelamento por 20 anos das verbas destinadas às obras de saneamento básico e à saúde?

O fato é que a água é um direito essencial à vida humana, assim como os serviços de saneamento básico, educação e a seguridade social, de acordo com a Constituição que vem sendo rasgada diariamente pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a serviço da rede neoliberal. Por isso os direitos constitucionais não poderiam ser pisados por um governo ilegítimo, co-autor, juntamente com seus coniventes no Congresso Nacional, de tantos desserviços à nação.

“É melhor morrer de pé, do que viver de joelhos”
Dolores Ibárruri, La Pasionaria

A greve dos caminhoneiros jogou o governo ilegítimo de Michel Temer, nas cordas. O paralelo proposto no começo deste artigo com a chapada do Araripe, aonde havia grande plantação de mandioca dos romeiros do Padre Cícero, em 1909, pode ajudar o leitor a entender que só através dessa força, poderemos enfrentar os assaltantes que agora estão dividindo o produto do roubo.

Assim como FHC em São Paulo, a sanha dos ruralistas de Pernambuco na engorda dos rebanhos, não tinha limite. Os vaqueiros eram orientados a tocar grandes rebanhos para comer a plantação dos mais pobres.

A desonestidade dos endinheirados, netos de senhores de engenho, provocou o maior flagelo da seca de 1915, fato que revoltou a numerosa família Pedro que habitava um quarteirão inteiro da Rua da Conceição em Juazeiro do Padre Cícero, acendendo a fagulha da reação que deu inicio a “Revolução de Joazeiro”. Todos “(...) homens do trabalho, lavradores de mandioca no chapadão do Araripe, mercadores de cereais nas feiras do Cariry, artífices de um ou outro ofício, carpinteiros, sapateiros, ferreiros, com que se mantinham¹”.

Quarenta irmãos da família Pedro passaram a cuidar da lavoura com rifles em punho. Os animais que comiam as raízes eram mortos. Depois eles esperavam os vaqueiros, intimidados por tocar o rebanho para fazer a engorda nas plantações dos pobres. Até que Zé Pedro, considerado o chefe da resistência e mais tarde famoso Cangaceiro do Nordeste, em 23 de janeiro de 1914, enfrentou a tropa de Crato debaixo do fogo da taboca, depois de deixá-la gastar a munição e na base do punhal de três palmos. Foram 20 horas de fogo na cidade. Zé Pedro tomou as trincheiras do Barro Vermelho, do Fundo da Maca e da Praça do Rosário, até chegar a cadeia do Crato, quebrar as grades e restituir a liberdade ao famoso Zé Pinheiro, considerado o “General Negro do Cariry”.

Os tempos de injustiça social que atravessamos nessa quadra da História estão sendo indicados pelas manifestações dos trabalhadores em greve.

O povo vem mostrando sua insatisfação nas ruas, inclusive de forma marginal, por falta de orientação política. A maioria sabe que Lula foi preso a partir de um processo - com base na “Teoria do domínio do fato” oriunda da Ação Penal 470 do Supremo Tribunal Federal - desprovido de elementos probatórios ou, para piorar a peça, munido por recibos de reformas que não foram realizadas como as da cozinha e do elevador que teria sido instalado no tripléx do Guarujá.

O grau da revolta social aumentará, mais do que o volume da narrativa “anti-corrupção” que todos os dias os agentes do consórcio dos meios de comunicação capitaneado por editorias das Organizações Globo, tentam enfiar goela abaixo dos incautos, através de mentiras repetidas.

É triste ver a convulsão social engrossando em pleno século XXI, enquanto as lideranças de trabalhadores placidamente assistem a redução drástica dos irmãos “da família Pedro”, formada por obstinados defensores dos pobres e oprimidos, se revoltando, mas sem direção. Hoje todas as “pedras” que restam da “família Pedro”, têm as bocas amordaçadas e os corpos torturados nas masmorras da “legalidade” espalhadas por todo território nacional, por Torquemadas que operam a drenagem dos recursos de contribuintes brasileiros, para o bem do império.

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1. “Beatos e Cangaceiros - História real, observação pessoal e impressão psicológica de alguns dos mais celebres Cangaceiros do Nordeste”, livro de autoria do escritor Xavier de Oliveira, 1920.

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*André Moreau, é Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê – Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos – ABI – Associação Brasileira de imprensa, jornalabi.blogspot.com arbitrariamente impedida de concorrer à direção nas eleições de 2016/2019.