24.6.18

ATO PELA VIDA DAS MULHERES OCORRE MESMO COM AMEAÇAS DE FASCISTAS CONTRÁRIOS [VÍDEO]

ANA CLARA SALLES -


Nesta sexta-feira, 22 de junho de 2018, ocorreram marchas pela legalização do aborto movida por mulheres pelo Brasil. No Rio de Janeiro a marcha teve início às 17 horas na Alerj, com muitas companheiras de luta presentes para a luta nessa pauta de extrema importância referente à vida das mulheres.

A questão do aborto no contexto brasileiro encontra-se em um estado crítico de perda de vidas, se tratando de uma questão de saúde pública, e um direito sobre o próprio corpo. As mais atingidas pela ilegalidade são as que não têm condições financeiras e sociais de pagar uma clínica clandestina para uma operação que não tenha risco para a mulher. Sendo assim diariamente, quatro mulheres morrem nos hospitais por complicações no processo de aborto. Isto são dados oficiais, nos quais tiveram acesso a casos que tenham um envolvimento do sistema de saúde, se incluir os casos de mortes em clínicas ou lugares de aborto clandestinos esses números aumentam de forma muito gritante.

Criminalizar o aborto não diminui a prática, principalmente na situação social de mulheres que lutam todos os dias sem direitos sociais básicos, como saúde, educação, moradia e etc. A mulher fica jogada na clandestinidade, seu corpo é a escolha de parlamentares homens brancos que dizem “valorizar a vida” matando as vidas que já existem. O argumento de cunho religioso, sobre estar matando uma “alma” ou qualquer definição do gênero, se encontra desprovido de atenção à situação e do contexto dessas mulheres, que morrem por não terem condições de conceber uma criança. As leis brasileiras sobre aborto são uma agressão à vida e a liberdade do corpo feminino, conservadoras, retrograda e baseadas no patriarcado e no machismo nosso de todos os dias. Esses sistemas de opressão estão muito bem enraizados em nossa cultura e legislação.

As marchas feministas (frisando que essa palavra significa a igualdade de direitos entre os gêneros) e todas as lutas do sexo feminino são de extrema importância para mudanças efetivas no sistema brasileiro, incluindo que nos últimos dias ocorreu a legalização em outros países, como Argentina e Irlanda, e isto reverberou a pauta do aborto no resto do mundo.  O ato carioca se concentrou na Alerj e se direcionou para Cinelândia, manifestando com gritos de guerra feministas e sobre todo o contexto da legalização, o percurso foi tranqüilo, embora a caminhada tenha sido estranhamente rápida, não houve confusão, e os Policiais Militares se misturavam na multidão de mulheres tirando as clássicas fotos dos rostos de manifestantes. O que também deve ser levado em conta é que estava havendo na mesma hora um ato anti-aborto na Candelária (onde antes estava marcado o ato pela Legalização), enquanto mulheres gritavam pela justiça da morte das irmãs e companheiras, majoritariamente um grupo de homens brancos com comportamento extremista, alguns fascistas, às chamavam de assassinas espalhando cartazes contrários a causa da legalização.

O questionamento dessa marcha feminista ignorar essa situação ficou no ar, os gritos de não violência enquanto eles continuam dissipando mensagens que matam milhares de mulheres? Fica o questionamento e a autocrítica. Quando a multidão foi espalhando-se pela Praça da Cinelândia e ajeitando cartazes nas escadarias, o clima estava mais tenso, primeiro com os PMs intervindo em manifestações como apagar os cartazes anti-aborto, ideologia de gênero e etc, que tinham sido postos pelo grupo que se reuniu na Candelária e mensagens pichadas de forma clássica durante a maioria dos atos. Houve a queima de um boneco, que parecia muito familiar com o golpista Temer, escrito MACHO, mais uma tentativa de pichação, sendo o limite para a PM fazer um cordão na escadaria e no fundo da praça, desfazendo a formação das manifestantes. Não houve maiores problemas do que ameaças, e com o tempo o ato foi esvaziando. Embora tenha sido um ato “pacífico”, foi com um custo de opressão muito grande. Essa paz feita de opressão encontra-se na falácia de uma intervenção militar. O povo precisa lutar pelos seus direitos, e a revolução será feminista!