2.10.18

MORO DÁ CONTRIBUIÇÃO VALIOSA À VITÓRIA DE FERNANDO HADDAD

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Sérgio Moro acabou de eleger Fernando Hadadd presidente da República. É um efeito das leis dialéticas. Assim como “Veja” quase elegeu Bolsonaro com sua desastrada reportagem sobre a ex-mulher dele. No caso de Haddad, a liberação pré-eleitoral dos ataques de Palocci contra o ex-chefe que praticamente o inventou na grande política tenderá a mover em favor de Lula, do PT e finalmente de Haddad boa parte da opinião pública que se sentirá manipulada de forma infame pelo juiz, que sequer cuidou de apresentação de provas.

Não importa o tempo dado pela televisão à delação traiçoeira do ex-ministro. Quanto mais ocorre o tempo da exploração do episódio, mais ele cai de forma negativa na opinião pública. O povo não gosta de traidores, por definição. E quando esses traidores tem cobertura de um órgão judicial que foi apenas tolerado nesse longo processo, mas sempre suspeito, sente-se apertar no pescoço o braço impiedoso de justiceiros que foram tão audaciosos em suas pretensões que impediram a aprovação na Câmara da lei de abuso de autoridade.

Podem fazer uma pesquisa de opinião, a última antes das eleições: tenho quase certeza de que a tentativa do juiz Moro e da Globo de influenciarem de forma abusiva e antidemocrática o resultado das eleições, mediante a decisão de tornar públicas, sem nada de novo, as denúncias de Palocci contra os ex-presidentes, Lula e Dilma, vai resultar num tiro pela culatra. Ele é um principista idiota que se lançou na campanha presidencial sem registro prévio de candidatura. Quer ganhar como um cardeal Mazzarino, nos bastidores.

O que mais me estranha nesse episódio grotesco são os propósitos de Moro. Será que ele optou por Bolsonaro? Acaso ele sequer tem um mínimo de percepção política para não avaliar que estamos celeremente caminhando para o nazismo, e ele, no nazismo, corre risco como qualquer um, a despeito da toga? Entramos num processo onde não há inocentes. Fazer o jogo de Bolsonaro, na situação de derretimento das instituições republicanas em que nos encontramos, é uma aposta fechada na obscuridade.

A única forma de entender essa situação é interpretar as múltiplas idas e vindas de Moro aos Estados Unidos, junto com seu grupo de promotores da Lava Jato, como exercício de entrega total do Brasil aos norte-americanos. Bolsonaro certamente não representa risco para quem não se importa pelo retalhamento do país, pela privatização de empresas estratégicas, pela entrega do pré-sal, pela destruição de nossa estrutura social, nesse caso começando pela reforma trabalhista e previdenciária. Ao contrário, ele poderá ser um promotor de tudo isso.

Abstive-me durante meses e anos de escrever sobre o juiz Moro e os promotores da Lava Jato, exceto por citações episódicas. Não é mais possível me abster. Não me considero de forma alguma um pretensioso se disser que estou encarnando o espírito da Nação quando denuncio os desmandos e a audácia desse juiz e seus promotores perante o país. Minha esperança é que a próxima Câmara, despertando de uma letargia suspeita, aprove o quanto antes a lei de abuso de autoridade, a fim de que se coíbam despropósitos quanto os de Moro.

Devo dizer que apoiei inicialmente a Lava Jato, com uma ressalva. No início de 2015, sugeri ao então presidente do Clube de Engenharia, Francis Boghosian, realizarmos um seminário sobre a Laja Jato. Nossa posição era a seguinte, de forma absolutamente imparcial: cadeia para empresários que tivessem cometido crimes, e total desembaraço para as empresas. Com o tempo, no reino brasileiro do absurdo, os empresários e outros espertos como Palocci foram premiados com delação premiada, enquanto grandes empresas com centenas de milhares de trabalhadores foram liquidadas. Tudo na conta estúpida da Lava Jato.