7.4.19

A QUEM INTERESSA A “DÉBÂCLE” DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA? A ABI NÃO TEM DONO!

ANDRÉ MOREAU -


Diante do conturbado cenário político instalado na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), desde a assembléia ocorrida em 2013 após a morte prematura do então presidente Maurício Azêdo, quando a presidência foi entregue de bandeja pelo seu vice, jornalista Tarcísio Holanda, para o diretor de sede, Sr. Fichel David, que posteriormente, em outra assembléia manobrada através de acordo judicial, resolveu transferir seus poderes para o Sr. Domingos Meirelles.

A coordenação da Chapa Villa-Lobos, mais uma vez vem a público para colocar a ética profissional em primeiro plano, ausentando-se das próximas eleições e comunicando aos seus membros que apóia a Chapa Barbosa Lima Sobrinho, encabeçada pelo jornalista Ivan Cavalcanti Proença, mas ressaltando que manterá as ações na Justiça, visando anular todas as decisões consignadas durante a gestão do Sr. Domingos Meirelles, bem como para saber a quem interessava o ocultamento do livro de atas desaparecido em abril de 2016, manuscrito pelo então presidente da Comissão Eleitoral da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), jornalista Carlos Newton, objetivando restaurar os fatos, as previsões estatutárias e o Regulamento Eleitoral da ABI.

A decisão de cancelar, sem aviso prévio, o envio dos boletos de cobranças pelos Correios, para jornalistas associados da ABI, principalmente para os que fizeram oposição à gestão do Sr. Domingos Meirelles, é inédita na história da centenária Casa dos Jornalistas. O plano gerou o esvaziamento da Sede no Centro, Rio de Janeiro e levou ao fechamento da representação em São Paulo. É dessa forma que o Sr. Domingos Meirelles será lembrado pela história, como o presidente que mais provocou constrangimentos entre os associados, principalmente entre jornalistas que combateram a golpe de 64 e se insurgiram contra o golpe de 2016. Aqueles que residem distantes da Sede da ABI, inclusive em outros municípios, foram segregados e tratados como inconvenientes. Cumpre ressaltar que a macabra medida foi deflagrada, não por acaso, logo após o veto contra a Chapa Villa-Lobos, encabeçada pelos jornalistas e escritores, renomados defensores dos direitos humanos e da liberdade de imprensa no Brasil e no exterior, José Louzeiro e Mário Augusto Jokobskind, impedidos de concorrerem às eleições de 2016, ocasião na qual, Louzeiro lembrou a Meirelles que “(...) a ABI não tem dono!”.

Diante do insólito quadro de silenciamento, a coordenação da Chapa Villa-Lobos decidiu cobrar na Justiça, no mesmo ano, o cancelamento das eleições, já que além do desaparecimento do livro de atas, a listagem dos associados não foi fornecida às chapas de oposição. Posteriormente, após quase três anos (19 de junho de 2018), de idas e vindas a tribunais, a Villa-Lobos venceu o pleito, em segunda instância, por unanimidade, mas ao contrário de admitir a derrota, o Sr. Domingos Meirelles optou por aprofundar o seu projeto pessoal de se perpetuar na presidência da ABI. Meirelles modificou o regimento interno, visando aumentar o valor da anistia, para os associados poderem votar, de uma, para sete mensalidades.

Cumpre ressaltar que o direito de votar na ABI sempre foi considerada uma “clausula petria” do Estatuto, tendo em vista a instabilidade profissional dos jornalistas e portanto a cobrança nunca ultrapassou o valor de uma mensalidade, levando-se em conta a ética profissional. O detalhe premeditado na citada ação promovida por Meirelles, só foi divulgado recentemente (24), às vésperas das eleições que deverão ocorrer no próximo dia 26 de abril, através do curto e grosseiro “Edital das Eleições Gerais,” assinado pelo Sr. Luiz Carlos Azêdo, atual presidente do Conselho Deliberativo, publicado no Jornal Monitor Mercantil, nos seguintes termos:

“(...) De acordo com decisão da Diretoria da ABI, referendada pelo Conselho Deliberativo para votar, os associados deverão estar em dia com as mensalidades dos últimos sete (7) meses. Rio de Janeiro, 24 de março de 2019”.

A manobra foi consumada dessa forma, como um decreto de um ditador em meio a caótica situação trabalhista dos jornalistas, que resolve decretar mais dificuldades, impedindo a maioria dos jornalistas, por diferentes razões, de participarem do pleito 2019-2021. Ao suspender o envio de boletos aos Associados, pelos Correios, a atual diretoria da ABI tirou do convívio da Casa dos Jornalistas, profissionais de imprensa contrários a posição política do Sr. Domingos Meirelles, fato marcado entre membros da categoria, pela retirada de circulação do Jornal da ABI e aprofundado com o fechamento da representação da ABI, em São Paulo, ambos ocorridos sem que antes fosse promovida uma ampla divulgação, seguida de uma necessária Assembléia Geral Extraordinária.

Em memória de José Louzeiro e Mário Augusto Jakobskind, fazemos aqui a pergunta que eles fariam: a quem interessa a “débâcle” da ABI?

*André Moreau, é jornalista, coordenador da Chapa Villa-Lobos e diretor do IDEA na UFF, Programa de TV do Canal Universitário de Niterói.