7.4.19

GALARDÃO

MIRANDA SÁ -

“O galardão das boas obras é tê-las feito de fato. Por isso, não pode haver melhor prêmio” (Sêneca)


Viciado na leitura da poesia, intoxico-me muitas vezes relendo Carlos Drummond de Andrade, de quem guardo uma lição: “Penetra surdamente no reino das palavras, / Lá estão os poemas que esperam ser escritos”. Por isso sou incansável no aprendizado do vocabulário.

Outro dia, procurando uma palavra, encontrei em estado terminal na UTI da Gramática, o termo “Galardão”. Não o via mais nos escritos, nem o ouvia nas conversas desde os meus anos escolares. No Aurelão está classificado como substantivo masculino, sinônimo de prêmio. Só.

Aprendi agora que o termo aparece diversas vezes na Bíblia, que fala de um galardão nos céus que cada crente receberá de acordo com o seu trabalho aqui na Terra. O escritor Silvino Candido Da Silva diz que nas Escrituras não foi revelado aos homens o que seria o galardão, mas segundo ele, deve ser coisa boa.

Então resolvi usar o verbete Galardão para falar sobre a briga entre pessoas e entidades para serem reconhecidas como os únicos responsáveis pela vitória eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.

Sinceramente, eu não dedicaria este prêmio a nenhum deles, ao presidente do PSL e à própria sigla, nem o filósofo de si mesmo, Olavo de Carvalho; nem o pastor dos políticos Silas Malafaia; nem os generais da reserva. Muito menos, como querem os analistas da grande imprensa, restrita ao Facebook…

Com mais de 70 anos de observação do cenário político, esbanjando experiências à esquerda e à direita, não caio nesta cantilena personalista de cabos eleitorais e, no caso específico da campanha de Bolsonaro, deixar de dizer que a vitória conquistada se deveu quase exclusivamente ao povo.

A adesão popular foi superior a que assistimos com Jânio Quadros e depois com Fernando Collor, uma conquista inolvidável. Buscando na memória, e pesquisando a História, o suporte dos brasileiros recebido pelo Capitão, só pode ser comparável com a volta de Getúlio Vargas em 1950.

Nas campanhas de um e de outro pouco valeram os partidos e personalidades das finanças, da mídia e da política, mas uma tarefa coletiva do eleitorado farto da politicagem; e, com Bolsonaro, combatendo a incompetência e a corrupção dos governos lulopetistas.

Como os tempos são outros, registrou-se a presença espontânea dos revoltados nas redes sociais, surpreendendo a imprensa tradicional e atropelando a minoria ruidosa do narcopopulismo bolivariano.

Foram milhares de participantes do WhatsApp que conquistaram o espaço dantes monopólio dos jornalistas e artistas famosos; do rádio e da televisão; e, principalmente, da tradicional influência dos Institutos de pesquisas de opinião pública.

A livre opinião individual e voluntária foi usada nas redes sociais e aprimorada pelos “zés ninguém”, empunhando a ferramenta no sistema de intermídia da Internet. Esta ferramenta, como ensina o autor da “Reinvenção da Política”, Diego Beas, subtrai dos poderosos o domínio sobre a opinião pública.

Assim, o Facebook e o Twitter enfrentaram mercenários, pagos para repetir slogans, os preguiçosos aparelhados em cargos públicos, ataques sorrateiros das fake news e os empanturrados com a mortadela ideológica apodrecida sob os escombros do Muro de Berlim.

Não se pode minimizar também a força do antipetismo já referida, uma repulsa nacional a quase tudo o que representou o governo fraudulento de Dilma Rousseff, dolosamente mentiroso e corrupto.

… E é igualmente inegável a força idealista do Centro Democrático, entrando na campanha antes da definição eleitoral e, sem dúvida, colaborando e fortalecendo a candidatura Bolsonaro. Os liberais continuam mantendo o apoio ao Governo, sobretudo pela participação de Paulo Guedes e Sérgio Moro, fundamentos que se põem acima das picuinhas desprezíveis do carreirismo. É deles o “Galardão”.