13.5.19

AS CONTRADIÇÕES DO MODELO UBER

WLADMIR COELHO -


A estreia da Companhia UBER no mercado de ações, no último dia 10, apresentou resultados bem abaixo das expectativas de seus controladores amargando, o valor dos papéis, uma queda de 8% ao longo do dia revelando um dos piores desempenhos de uma empresa estreante na bolsa.

O anúncio da oferta pública das ações da companhia UBER foi antecedido de vibrantes comentários e elogios à ideologia da organização cujo modelo de relação com os trabalhadores, eufemisticamente denominados de colaboradores, foi saudado pelos modernos de plantão como o “futuro do trabalho.”

A uberização do trabalho, fenômeno verificado a partir das plataformas digitais, vai criar os meios para extinguir definitivamente o emprego formal associado este a “burocracia” e ausência de liberdade empresarial em função de limites estabelecidos através das legislações trabalhistas; repetiam os neoliberais em palestras, livros, vídeos e noticiário em geral.

Regozijavam-se os escravocratas do Vale do Silício com o fim da assistência médica, salário mínimo e outros fatores de limitação da livre ação da mão invisível anunciando um novo significado para a organização do trabalho.

Enquanto isso a economia apresentava-se de forma cruel: segundo a revista In These Times a realidade não corresponde a expectativa ficando o setor de plataformas de serviço responsável por apenas 1% do total da mão de obra empregada nos Estados Unidos.

Tratando em termos práticos a ideologia neoliberal, com seu cada um por si, repete insistentemente o mantra da incompetência estatal clama por liberdade plena, contudo os capitalistas não conseguem sobreviver sem o apoio ou controle definitivo do Estado.

Vejamos o caso do emprego nos Estados Unidos; naquele país os grandes empregadores encontram-se associados ao Estado e claramente dependentes do setor militar existindo somente na indústria bélica - cujo funcionamento depende diretamente da contratação para fabricação de tanques, navios, aviões e outros - 2,4 milhões de trabalhadores.

A presença do Estado no setor econômico agiganta-se quando verificamos os 3,2 milhões de funcionários civis e militares empregados no Departamento de Defesa que segundo a revista Forbes representa o maior empregador do mundo.

O Departamento de Estado apresenta-se ainda como o maior comprador individual de petróleo do mundo garantindo, de forma incontestável, o emprego para aproximadamente 5.6% da mão de obra ativa dos Estados Unidos segundo o American Petroleum Institute.

Estes números do setor petrolífero explicam, em grande parte, a obsessão estadunidense em impor o seu entendimento particular de democracia aos países produtores de petróleo estejam estes na América do Sul, na Ásia ou em qualquer outro ponto do planeta.

Retomando o fato UBER; a folha de São Paulo apontou como causa da frustração com as ações da companhia a dependência “de um influxo generoso de capital privado para bancar a expansão acelerada e a concorrência feroz em que estão envolvidas.”

A clara tradução do fracasso, ao verificarmos a justificativa da Folha de São Paulo, encontra-se exatamente na diferença entre o discurso e a prática neoliberal cultuado e defendido nos grandes veículos de comunicação e repetido por governantes militares e civis do Brasil, ou seja, o capitalismo não tolera riscos, detesta a concorrência e precisa desesperadamente da presença do Estado para sobreviver.

O modelo UBER vai perdendo ainda mais de sua sedução neoliberal diante da insatisfação de seus “colaboradores” com a ausência de regras trabalhistas e devemos recordar que esta desregulamentação constitui a base para a continuidade da companhia.

Cisões no modelo verificam-se através da organização dos motoristas em sindicatos e associações para exigir a regulamentação trabalhista destacando-se a recente greve mundial dos motoristas de UBER somados a conquista de um rendimento mínimo (uma espécie de salário mínimo) em Nova York.

A reforma trabalhista no Brasil seguiu exatamente o modelo UBER e durante a campanha eleitoral seu aprofundamento foi claramente proposto pelo candidato direitista que defendeu abertamente o fim do que denominou de privilégios da classe trabalhadora apoiado por seu vice general um defensor radical da extinção do 13º salário.

As oligarquias capitalistas, o famoso 1%, revelam-se famintas pela ampliação do controle dos recursos estatais e para este fim atacam sem piedade os direitos sociais. O Brasil, neste momento, é atacado de forma violenta através de ações que incluem desde a extinção da educação pública a destruição dos serviços estatais de saúde.