1.6.19

CAMINHONEIROS E PETROLEIROS SE UNEM PELA PETROBRÁS E PELA PREVIDÊNCIA

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Dirigentes da Associação Brasileira de Caminhoneiros, Abcam, e das duas federações brasileiras de petroleiros, FUP-Federação Única de Petroleiros e FNP-Federação Nacional de Petroleiros, estabeleceram em Brasília um acordo em torno de uma agenda comum. O acordo parte de demandas específicas, como uma política de preços razoáveis e estável para diesel, gasolina e gás, firme rejeição à privatização das refinarias da Petrobrás e da BR, e rejeição total à privatização da Previdência embutida no regime proposto de capitalização.

Ao contrário do que se pode pensar, a demanda dos caminhoneiros autônomos vai além dos preços do diesel. Para o presidente da Abcam, José Fonseca, apenas baixar os preço do diesel “já não nos atende. Que adianta termos preços baixos do diesel se não tivermos carga para transportar?” Aproximadamente metade das frotas dos caminhoneiros autônomos está ociosa ou quase ociosa. O interesse fundamental dos caminhoneiros agora é a retomada imediata do crescimento econômico, que só existirá se houver retomada do emprego.

Num ponto, caminhoneiros e petroleiros tem concordância absoluta: na rejeição à privatização das refinarias e da BR Distribuidora, da Petrobrás. O objetivo pretendido pela Petrobrás, tendo na direção um teleguiado de Paulo Guedes, é impedir que a empresa se mantenha como líder absoluta na produção e distribuição de derivados, abrindo espaço para importação por petrolíferas privadas estrangeiras. Com isso inventaria um mercado competitivo de diesel fake reduzindo a produção e induzindo a importação.

O Brasil, através da Petrobrás, pode atender à totalidade do mercado interno de derivados essenciais, como diesel, gasolina e gás, sobretudo com entrada prevista de mais duas refinarias da estatal em pouco tempo. Não existe nenhum caso, no mundo, em que um país que tem auto-suficiência em petróleo bruto e refino, se exponha voluntariamente a quebrar essa condição, essencial para a segurança nacional e a própria segurança da sociedade, sobretudo num contexto em que a produção mundial de petróleo tende a cair.

Caminhoneiros e petroleiros sabem de duas coisas: primeiro, que esse processo de retalhamento da Petrobrás não visa apenas a interesses internos, mas aos interesses das petroleiras estrangeiras e do mercado acionário americano. Testas de ferro internos dessas negociatas devem estar levando muito dinheiro nisso, agora ou como ativo futuro. E, finalmente, que os militares no governo, que tem a atribuição guardiães da soberania, ou estão cegos diante essa dilapidação do patrimônio público ou só querem emprego.

Estudos feitos pela Aepet-Associação de Engenheiros da Petrobrás, de conhecimento da Abcam, mostram que a Petrobrás, na função de empresa líder no mercado de derivados, pode praticar tranquilamente um preço que atende os caminhoneiros, taxistas e donas de casa (gás). A técnica para isso é simples: estabelece-se preço pelo custo. Calculam-se todos os custos e põe-se uma margem de lucros. Se houver variação do custo varia-se o preço, para baixo ou para cima. É assim que os monopólios privados praticam preços.

Claro que os abutres de Wall Street não gostariam disso. Vão dizer que o governo está obrigando a Petrobrás a controlar preços. Entretanto, o estudo da Aepet indica que, nesse esquema de preço pelo custo, a Petrobrás pode ter lucro maior que hoje. De qualquer modo, os compradores das ações da Petrobrás em Nova Iorque sabiam que se trata de uma empresa de economia mista controlada pelo Governo, que tem todo o direito de intervir nela mediante estabelecimento de uma política de defesa do interesse nacional.

Esse, aliás, é um dos pontos pelos quais faz sentido defender a soberania nacional, tema crucial na agenda conjunta de caminhoneiros e petroleiros. Eis a agenda, resumidamente: “Caminhoneiros e petroleiros, unidos, pela soberania nacional; por um preço justo do diesel, da gasolina e do gás; contra a privatização das refinarias da Petrobrás e da BR; e contra a privatização da Previdência pública.”