12.6.19

QUAL O PAPEL DO JORNALISTA EM UM PAÍS DEMOCRÁTICO?

ANDRÉ MOREAU -


A divulgação no Intercept Brasil dos diálogos sobre as orientações do então juiz Sérgio Moro, ao promotor do MPF - Ministério Público Federal, chefe da Operação Lava Jato, Delton Dallagnol, movimentou de forma atípica os três poderes em Brasília, nessa terça-feira (11), assim como as editorias dos principais telejornais das Organizações Globo, dentre os quais, o Jornal Hoje (JH) e Jornal Nacional (JN).

Logo pela manhã o presidente do STF, Dias Toffoli, falou no salão nobre do STF, no lançamento do "Painel Multissetorial de Checagem de Informações e Combate a Notícias Falsas," independentemente da linha editorial de cada veículo, tendo por norte as noticias falsas direcionadas ao judiciário.

Toffoli iniciou sua fala citando o estadunidense Frederick Burr Oppre (1894), autor do cartun sobre "fake news," para discorrer nos quinze minutos de sua exposição sobre as conseqüências das noticias falsas para a sociedade, mas preferiu não destacar as que são publicadas nos meios de Comunicação de massa, responsáveis em grande medida, pela indução da crise a partir do medo que a população atravessa atualmente. O evento, não por acaso, insta tais editorias a fiscalizar as "fake news" que elas próprias produzem, o que nos leva a questionar o papel de um jornalista num país democrático.

Durante todo dia, repórteres foram destacados para ouvir a opinião dos ministros do STF, sobre os impactos das revelações feitas pelo jornalista Glenn Greenwald. Os noticiários, no entanto, deram maior destaque para os que denominaram a divulgação dos diálogos (9), como ação criminosa. O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zannin, foi ouvido em uma pequena tomada, no JH.

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, chegou de lancha junto com o presidente Jair Bolsonaro, na cerimônia de comemoração do 154º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo. Compareceram ao evento, o vice, Hamilton Mourão, ministros de Estado como o da Economia, Paulo Guedes e a procuradora geral da República, Raquel Dodge.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva disse que Moro tem "total confiança" do governo. "Ele é um ministro, um homem de muito respeito e do bem". O vice-presidente Hamilton Mourão se posicionou da mesma forma, lembrando que Moro é alguém da "mais ilibada confiança".

Os ministros da segunda turma do STF adiaram para o dia 25 de junho, o julgamento do Hábeas Corpus do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, previsto para ocorrer nessa terça-feira, dia 11, sem maiores explicações. Para tornar o quadro mais instigante, nesse mesmo dia, as transmissões ao vivo das sessões do STF, foram suspensas.

O general Eduardo Villas Boas, publicou no Twitter que, "Momento preocupante o que estamos vivendo, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo tentem esvaziar a operação lava jato, que é a esperança para que a dinâmica das relações institucionais em nosso país venham a transcorrer no ambiente marcado pela ética e pelo respeito ao interesse público. Expresso o respeito e a confiança ao ministro Sérgio Moro".

Enquanto isso na Câmara dos Deputados, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), cancelou sessão solene pelo Dia Mundial de Jerusalém (Al-Quds), que contaria com a presença de representantes da Palestina e do Irã, em homenagem a comunidade Árabe no Brasil, que ocorreria na próxima quarta-feira, dia 12. A assessoria de Maia confirmou que o cancelamento "foi uma decisão do presidente", mas não explicou o motivo.

*André Moreau, é jornalista, diretor do IDEA, programa de TV – Unitevê, Canal Universitário da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Coordenador da Chapa Villa-Lobos na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) blog jornalabi.blogspot.com