4.9.16

OS VAGA-LUMES PERSISTENTES; ANSEIO DE AMOR

MARCELO MÁRIO DE MELO -
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Os vaga-lumes persistentes.

A Verdade fez uma visita clandestina à Cidade da Mentira Cimentada. Andou por ruas, praças e edifícios, detendo-se em monumentos e jazigos construídos sobre o pó da palavra cristalina.

No Vale do Alvorecer teve encontro com a legião dos Vaga-Lumes Persistentes. Eles foram chegando e se juntando em nuvem de luz que se elevou e a envolveu. Mas sem a força para suportar seu peso e transportá-la às alturas.

A Verdade lhes disse que teriam de se empenhar mais, atravessando o tempo, multiplicando-se e alargando a nuvem. Até formarem o palco em que ela, um dia, no cenário da linha do horizonte, sob as cores do arco-íris e coroada com raios do sol, retiraria a máscara, o manto, a roupa, mostrando o corpo nu incandescido.

Nesse momento os vaga-lumes se transformariam em estrelas. Então as consciências se acenderiam e seria demolida, pedra a pedra, a Cidade da Mentira Cimentada, construindo-se a Cidade-Luz. Até lá, sendo indispensável a persistência dos Vaga-Lumes, multiplicando-se e alargando a nuvem toda a vida.

***

ANSEIO DE AMOR
Não quero 

um amor construído 
como se comprasse um terreno
e contratasse os projetos
de arquitetura e engenharia


um amor
pré-cozido
congelado
guardado na geladeira
e posto no micro-ondas
a ser servido

um amor
de partitura
oficina
ensaio
para apresentação inaugural.

Quero um amor
que apareça
e vá se descobrindo
como livro de história
e cidade nova

um amor
que se desenrole
em conversa na esquina
encontro na praça
andança
& festança

um amor
de olhos nus
que desembaralhe
as cartas na mesa
e se desfolhe
como uma rosa
em strip-tease
soltando as pétalas

um amor normal
muito normal
mas tão normal
que acolha com normalidade
todas 
as anormalidades
poéticas 
da vida.