5.9.16

COM AS MÃOS ABANANDO, SEM NADA PARA OFERECER

CARLOS CHAGAS -


Vem aí mais um Sete de Setembro. Não há certeza se Michel Temer desfilará de carro aberto pela Esplanada dos Ministérios antes de empoleirar-se no palanque das autoridades para assistir o desfile cívico-militar comemorativo do Dia da Independência do Brasil. Mas não deixará de abanar as mãos para quantos consigam vê-lo das calçadas. A verdade é que receberá a continência das Forças Armadas, os cumprimentos de seus ministros e do corpo diplomático, ainda que povão, mesmo, só de longe e sem entusiasmo.

O presidente está devendo sua identidade com o país. Aguarda-se um plano de governo. Pelo menos um elenco de reformas capazes de sensibilizar a opinião pública. Mesmo em se tratando de medidas de sacrifício, de cortes de gastos e de supressão de direitos sociais,  seria bom que Sua Excelência passasse dos enunciados genéricos para o conteúdo prático.

Recomendou Maquiavel que o Príncipe anunciasse de uma vez todo o mal necessário à sua permanência no poder e depois, aos poucos, fizesse o bem. Ouve-se falar nas restrições às aposentadorias e pensões, na extinção de prerrogativas trabalhistas, no aumento de impostos, na compressão salarial e demais maldades. Nada a respeito da melhoria das condições de vida das massas e da redução de encargos de que vive de salário, a começar pela vergonha de um salário mínimo que no próximo ano chegará aos 945 reais.

Fica difícil imaginar o novo governo conquistando apoio popular, mas o perigo é que perca o pouco que lhe resta de respeito. Em poucos meses faltarão condições a Temer para enfrentar o cidadão comum, caso não se decida a dizer a que veio.  Equilibrar as finanças, iniciativa ainda em dúvida, não bastará para ser reconhecido como representante do povo.

Logo a inércia popular se transformará em manifestações de protesto por onde passar. Legitimidade e representatividade não se conquistam sem resultados. Muito menos, popularidade. Jamais com as mãos abanando, sem nada para oferecer.