ROGER MCNAUGHT -
No último final de semana a cidade de Petrópolis, na
região serrana do Rio de Janeiro, foi palco de cenas criminosas segundo
denúncias de estudantes que participavam dos Jogos Jurídicos 2018 – evento
desportivo que reúne estudantes do curso de direito.
Segundo relatado por estudantes, durante uma partida de
futebol entre estudantes da PUC-RJ e da UCP, uma integrante da torcida da PUC
teria jogado uma casca de banana na direção de um atleta negro da PUC, e
posteriormente outros membros da mesma torcida teriam imitado macacos diante de
torcedores negros da UERJ e ainda uma estudante negra da UFF teria sido
ofendida diretamente com o termo “macaca”.
Estes episódios criminosos seriam por si só aberrações
desumanas e totalmente reprováveis porém abriram uma “caixa de pandora” ainda
pior: a “cultura discriminatória”
demonstrada no evento desportivo já vinha sendo praticada por meio de músicas que
atacam diretamente estudantes negros, pobres e/ou cotistas de universidades
públicas do Rio de Janeiro de forma deplorável.
Diante do “escândalo” causado pela postura desumana no
evento desportivo, estudantes universitários alegam que houve uma tentativa
deliberada de “apagar” as músicas que não logrou êxito, e uma vazou nas redes
sociais (vídeo). Diversas letras
discriminatórias foram denunciadas em uma página relacionada ao meio
universitário nas redes sociais:
“Bom aproveitando
que todos os holofotes estão pro direito da PUC aqui vão algumas músicas que
eles de ontem pra hoje deixaram indisponível por motivos de: vamos levar mídia,
porque não serão tolerados machismo, preconceito e racismo por parte da PUC.
Que triste que alunos tenham sofrido de forma tão grotesca para que as pessoas
se atentasse para o que estava acontecendo.
E deixo aqui o meu
apelo as demais atléticas: vocês podem brincar, zoar e ter as rixas de vocês
mas pelo amor presta atenção com o conteúdo das músicas que vocês estão
perpetuando por aí e façam como a nacional que cortou diversas músicas ao longo
dos anos por que já não cabia mais, muitas músicas são antigas e mesmo que seja
conhecida no meio se ela for machista, preconceituosa, descriminatória,
homofóbica e racista, só tirem.
E não é mimimi,
porque foram alunos machucados e hostilizado em pleno 18.1 por palhaçada, ngm é
melhor do que ngm por estudar em determinada instituição.
PUC rio -UFRCOTA
FND
Ih já tem cota,
UFRJ já tem cota UFRJ
Cheio de mendigo do
campo de Santana
É só gordinha
chechelenta
Já tem cota, já tem
cota
Eu estava comendo
geral foda-se
Baixou o morro da
previdência
Tá com sarna na
vaga, rabugento é vira-lata
Cota pros pobrinho
Já tem cota UFRJ
Já tem cota pros
pobrinho
Já tem cota UFRJ
Perla
Já tô sabendo que
tu tem cota também, tem também
Logo você que zoava
o congolês, o congolês
Agora UFRJ se
fudeu, se fudeu
O pobre deles não é
mais pobre que o seu
Quer ajuda pro trem
eu inteiro
O trocado pro
lanche eu dou
Aproveita que hoje
eu tô bonzinho
Dou cinquinho pelo
seu popo
No fim do mês a grana
vai faltar, vai faltar
Vai no lixão lá da
central catar lata
Quer ajuda pro trem
eu inteiro
O trocado pro
lanche eu dou
Aproveita que hoje
eu tô bonzinho
Dou cinquinho pelo
seu popo
No fim do mês a
grana vai faltar, vai faltar
As músicas:
PUC rio - Congo
UERJ
Bota o Congo pra
mamar
Ela é cotista e
sempre quer que eu banque
Mas eu só vou pagar
se eu gozar
Chupa sem o dente
pra me deixa contente
Bota o Congo pra
mamar
Ela é cotista e
sempre quer que eu banque
Mas eu só vou pagar
se eu gozar
Chupa sem o dente
pra me deixa contente
É favelada vou
ajudar um pouquinho
Então toma um
trocadinho vai, toma um trocadinho
E faz um lanche ali
no bandejão
Pão com mortadela
de repente um requeijão
De laranjeira foi
pra Madureira
Hoje ela se esconde
no morro do dendê
Foi lavadeira, já
foi faxineira
Hoje é cotista
ganha a vida com michê (puta)
PUC rio - chumbo
quente
Infelizmente as da
UERJ não tem dente
Tem um bigode que
espeta e eu não pego nem doidão
Lá no fundão só
cocota vagabunda
Que adora dar a
bunda e querem surra de molão
Unirio dão demais,
as da UFF dão no chão
Tá ligado aqui é
PUC rio aqui só tem moleque bom
Junto com o jacaré
vai pro caralho é a gente
Se liga PUC rio vai
comprar Candido Mendes”.
Ainda segundo relatos de estudantes, esta prática
discriminatória em músicas e eventos desportivos não é novidade e causa espanto
que as instituições de ensino universitário nunca tenham tido notícia para
coibir adequadamente tal prática. Segundo a Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de
Direito da PUC-Rio, em declaração para jornalistas, será constituída uma Comissão
Disciplinar para averiguação das informações relativas à ocorrência nos jogos
jurídicos e, caso confirmada a veracidade, haverá responsabilização de membros
do corpo discente.
Nos resta, como sociedade civil, exigir que tais
apurações não se limitem apenas ao episódio dos jogos jurídicos incluindo
também uma profunda averiguação de possíveis condutas criminosas que tornam o
ambiente universitário insalubre para pessoas não oriundas das classes
abastadas. A impunidade e a forma como
são tratados os reiterados incidentes de mesma natureza perpetuam a sensação de
que o ambiente acadêmico é um ambiente exclusivista e elitista e tal postura
deve ser combatida e criminalizada para o bem de toda a sociedade.