23.5.17

O ACORDO POR CIMA: CONTINUIDADE DO GOLPE SEM TEMER

JEFERSON MIOLA -

Em paralelo à guerra entre a Globo, a FSP e o Estadão pela primazia de protagonismo na arena política, avançam as costuras no interior da classe dominante para definir as saídas para a crise.

Além dos movimentos dos atores partidários da oligarquia, as entidades empresariais passaram a defender publicamente suas perspectivas.

Nos jornais pode-se observar estes movimentos:

- Num Comunicado à Nação, a CNI, sem mencionar o governo e o presidente moribundo, defende que “As reformas trabalhista, previdenciária, tributária política são imprescindíveis têm de continuar avançando”;

- em anúncio de página inteira, o SECOVI [Sindicato da Habitação de SP], também omite o descartável Temer e sustenta que “agenda de reformas veio para ficar deve ser obrigatoriamente implantada”;

- FHC sugere um entendimento com Lula e o PT para viabilizar “uma sucessão controlada” [leia-se, indireta] do Temer, como pressuposto para a estabilização do clima político para o prosseguimento das reformas no Congresso;

- a colunista Lydia Medeiros, de O Globo informa que o “alto comando da coalizão partidária que sustenta governo Temer busca, desde fim de semana, uma solução para crise que permita renúncia do presidente dê ele garantias de que não irá para prisão”. Segundo a jornalista,“Temer já teria concordado com ideia, opções como indulto ou pedido de asilo foram discutidas nas últimas horas. Entre os articuladores estão José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Romero Jucá Renan Calheiros”.

Os parâmetros da classe dominante para a solução da crise estão claros: eleição indireta do sucessor de Michel Temer no Congresso e a continuidade das reformas trabalhista e previdenciária e das agendas antipopulares e antinacionais – ou seja, a continuidade do golpe.

Esta solução requer, porém, o equacionamento de três variáveis: [1] proteger Temer da prisão depois da renúncia ou afastamento, [2] encontrar consenso acerca do nome a ser eleito indiretamente pelo Congresso para suceder Temer e presidir o país até 31/12/2018, e [3] inviabilizar a candidatura do Lula.

Caso não haja uma contundente capacidade de mobilização popular, nos moldes da campanha das Diretas Já de 1984, o desfecho da crise será o acordo por cima fechado pela classe dominante, mesmo que isso possa abrir um período de instabilidade política e de conflito social no país.