21.11.16

BALAIO

MIRANDA SÁ -

“Essa reforma ministerial é um balaio de caranguejos. Uns caranguejos entrando, outros saindo.” (Leonel Brizola)


Procurei como louco a etimologia da palavra ‘balaio’ e não encontrei em canto nenhum. Embora sendo uma produção artesanal indígena, pré-cabraliana, não consta do “Pequeno Vocabulário Tupi, do padre A. Lemos Barbosa, nem do clássico “Diccionario da Lingua Tupy” do erudito e poeta Gonçalves Dias.

O verbete dicionarizado é Balaio – Substantivo Masculino, um cesto de diversos tamanhos, formatos e materiais. É geralmente encontrado pelo Brasil afora feito de palhas de milho, de bananeiras e palmeiras, bambu, cipós, fibras de agave e taquara, com a serventia de guardar ou carregar alimentos, coleta de vegetais, objetos vários e roupas.

É riquíssima a sua sinonímia; na gíria designa quadris ou bundas volumosas, trazendo como exemplo “a moça movia o seu balaio com graça”… (Dicionário de Gíria – J.B. Serra e Gurgel).

A expressão popular inspirou vários cancioneiros, absorvendo do folclore versos de modinhas antigas. O compositor Barbosa Lessa assumiu uma das versões de “Balaio” que foi lindamente interpretada por Inezita Barroso, e também, referindo-se à interpretação do folclore, por Kleiton e Kledir.

Pesquisadores das tradições gaúchas encontraram “Balaio”, uma dança sapateada e, ao mesmo tempo, de conjunto, muito popular no Rio Grande do Sul. E na expressão gauchesca do nosso epigrafado, Leonel Brizola, aparece “balaio de caranguejos”, com o mesmo significado de “balaio de gatos”, bagunça, confusão, embaraço e encrenca.

A política brasileira – como legado da Era Lulopetista – tem a interpretação exemplar nas idas e vindas do Governo Temer, herdeiro legítimo da impichada Dilma Rousseff, pois além de eleito com ela, substituiu-a no espírito da Lei.

Prometendo enxugamento do ministério, o presidente sucessor aboliu o Ministério da Cultura, uma jabuticaba instituída para servir de cabide de empregos e ‘otras cositas más”. Só existe no Brasil. Pois bem, uma meia dúzia de três ou quatro “artistas”, amamentados pelas tetas generosas da Lei Rouanet espernearam, e Temer voltou atrás.

Seria enfadonho – e ocuparia este precioso (para mim) espaço, os ministros que entraram e saíram como caranguejos, denunciados por atos corruptos, mostrando a insegurança reinante no Palácio do Planalto, cujas vacilações vimos na declaração pública de Temer dizendo-se preocupado com a prisão de Lula, que produziria ‘instabilidade’ no País.

Prá não dizer que só falei das flores planaltinas, temos um ‘balaio de gatos’ aberto no Rio de Janeiro, com a prisão de dois ex-governadores, Garotinho e Cabral, este último arrastando consigo os sócios do Clube dos Guardanapos.

Garotinho, preso sob denúncia de crime eleitoral, mostrou o artista que é, ensaiando uma doença de última hora, que nunca apresentou sintomas; revelando temor pela prisão e o pavor de ir para um hospital público, como se ali fosse um centro de tortura… Com manhas e encenação, engabelou uma juíza do TSE – que parece ser um tanto ‘heterodoxa’…

O outro, Sérgio Cabral, não se revelou agora. É difícil imaginar o porquê da Polícia, da Procuradoria e da Justiça levar tanto tempo para denunciá-lo. Se o investigaram, choveram no molhado pois a prática corrupta cabraliense atravessou dois mandatos, disputou uma Copa do Mundo e treinou para a Olimpíada, tendo principal modalidade o salto tríplice das propinas…

Nos balaios com patas caranguejeiras ou estridentes miados de gatos, tivemos a cínica, despudorada e mentirosa declaração de Dilma, ao dizer que nunca foi aliada de Cabral. Essa falsidade envolve todos os seus codinomes, Estela, Vanda, Patrícia e Luiza como guerrilheira; pela segurança presidencial “Torre de Cristal”, no caderno das propinas, “Dulce Maia” e agora, como futura escritora, o heterônomo “Janete”.  Ela é muitas, mas o seu DNA da depravação é um só…