3.12.18

NO BRASIL ATÉ OS TRENS SAEM DOS TRILHOS

ANDRÉ MOREAU -


Boa parte da população está perplexa com os acontecimentos dos últimos anos. Sentindo-se traída com posicionamentos de políticos, como o publicado na Revista Veja logo depois do golpe que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff, “É preciso virar a página do golpe” (Humberto Costa, PT-Pernambuco). E mais recentemente, com a entrevista do Presidente do PT do Rio, Wellington Siqueira, o Quaquá, declarado inelegível por oito anos, que também, à Revista Veja, atribuiu todo retrocesso político que estamos vivenciando a erros cometidos pela mandatária e não ao esquema jurídico, parlamentar, midiático e militar, patrocinado pelo Governo dos Estados Unidos, para mudar o sistema de governo.

Somam-se as traições dos membros da direita do PT que desmobilizam parte das manifestações populares, as ações da Justiça contra os co-autores do golpe que seguem sendo empurradas para baixo das pilhas de processos que não devem andar. E juízes que se posicionaram a favor do impeachment, sem mérito, que confundem decisões jurídicas com atos do Poder Legislativo, como se tivessem sido eleitos para tal investidura.

Semana passada, em Deodoro (27), entre as estações de Oswaldo Cruz e Madureira, outro trem descarrilou. Como de costume a questão foi tratada de forma secundária, noticiada apenas em jornais que circulam no Rio, denominados pelo Historiador e General Nelson Werneck Sodré, como “artesanais,” justamente em função da escala de produção, além é claro da limitada distribuição. O que chama a atenção, é que os órgãos que, respectivamente, deveriam garantir a manutenção da ferrovia e fiscalizar a empresa concessionária, repetem a mesma cantilena de sempre. E o Ministério Publico, ao contrário de denunciar o que não é cumprido, para que se cobre o que foi contratado e o que está previsto em Lei, não se manifesta a respeito, ou seja, o direito do cidadão também vai para a lata do lixo como foram a Constituição, a Consolidação das Leis do Trabalho e o acordo com os médicos cubanos do Programa Mais Médicos.

A matéria de quatro colunas com três centímetros de altura, intitulada “Agestransp apura descarrilamento de trem”, publicada no Jornal O DIA (28), informa que a Agência Reguladora de Serviços de Transporte Aquaviários, Ferroviário e de Rodovias do Estado do Rio (AGESTRANSP), “abriu boletim de ocorrência para apurar as circunstâncias do descarrilamento de um trem de manutenção que afetou três ramais (Deodoro, Japeri e Santa Cruz)”, prejudicando milhares de cidadãos. Em seguida, repercute a justificativa da AGESTRANSP a velha fórmula de tratar o injustificável: “até agosto de 2018 abriu 16 boletins de ocorrência para apuração de acidentes ou incidentes que provocaram impacto significativo na operação dos trens.” Já a SuperVia, a empresa que deveria fazer a manutenção dos trilhos, é mais evasiva ainda, “esclarece que suas equipes atuaram para solucionar o problema o mais rápido possível,” mas quem deveria fiscalizar e quem deveria restaurar a rede ferroviária, não fala da origem do acidente que salta aos olhos de todo cidadão que utiliza os trens: os dormentes dos trilhos estão podres por serem velhos e de madeira. Com o peso dos trens, tendem a romper, desalinhando os trilhos.

No detalhe dos dormentes de madeira ainda usados nos trilhos por onde trafegam os trens do Rio, ao contrário de cidades que zelam pela segurança das suas respectivas populações que substituíram dormentes de madeira, por peças de concreto armado em ferro, o fato pode servir como um dos motores para gerar o clima pretendido desde 2013 pelo consórcio dos meios de comunicação que operou o golpe, visando confundir ainda mais os incautos, colocando aficcionados por choques da doutrina de Milton Friedman que encobrem as razões de juízes que deveriam decidir fundamentados nos fatos e nas leis específicas.

Por outro lado, em meio ao clima induzido de terra arrasada, os professores se mantém mobilizados contra a tal ‘educação sem partido,’ na luta contra a privatização do ensino público e contra outras ameaças dos patriotas norte-americanos. Os mais atentos sabem da importância de reforçar a resistência, de tal forma que interfira de fato e por direito, no plano dos ministros do recém eleito presidente, que pretende entregar ao império, tudo que é público, ou seja, o que beneficia os mais pobres e que mais uma vez, o bem estar social saia dos trilhos.

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*André Moreau, é Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê – Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos – ABI – Associação Brasileira de Imprensa, arbitrariamente impedida de concorrer à direção da ABI nas eleições de 2016-2019 jornalabi.blogspot.com