1.1.19

COLUNISTA DA FOLHA RELATA “DIA DE CÃO” NA POSSE DE BOLSONARO: RIRAM “DAS PRECÁRIAS CONDIÇÕES DA COBERTURA”; JORNALISTAS DA FRANÇA E CHINA ABANDONAM A POSSE

REDAÇÃO -


A jornalista e colunista Mônica Bergamo (foto) relatou na Folha de S.Paulo “um dia de cão” na cobertura do início do governo Bolsonaro. “É uma posse diferenciada e todos têm que entender isso. Com essas palavras, a assessora do Palácio do Planalto que acompanhava jornalistas num ônibus rumo ao Congresso Nacional, na manhã desta terça (1º), procurava acalmar veteranos da profissão (esta colunista entre eles) que não conseguiam, digamos, entender os novos tempos —e o tratamento reservado à imprensa na posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República. Foi, de fato, algo jamais visto depois da redemocratização do país, em que a estreia de um novo governo eleito era sempre uma festa acompanhada de perto, e com quase total liberdade de locomoção, pelos profissionais da imprensa. O sufoco começou dias antes, no credenciamento”.

Ela desenvolve o raciocínio: “os jornalistas foram informados de que não poderiam ter acesso livre, por exemplo, ao salão nobre do Palácio do Planalto, onde o presidente sobe a rampa, dá posse aos seus ministros e recebe cumprimentos de autoridades internacionais. Na posse de Lula, em 2003, repórteres chegavam a se aglomerar em torno dele e de Fernando Henrique Cardoso, misturando-se entre a equipe recém-empossada e a que deixava o governo. Um dos repórteres lembrava, no ônibus, que chegou a subir no elevador do Planalto com Lula, furando um esquema nada rigoroso de segurança. A colunista chegou a entrar em salas privadas com o então vice-presidente dos EUA Joe Biden na posse de Dilma Rousseff, em 2014. Desta vez, tudo seria diferente. Apenas um jornalista de cada veículo poderia entrar no palácio, e com acesso restrito às autoridades”.

Mônica então alerta sobre um absurdo da organização na posse: “os outros ficariam do lado de fora, na portaria ou num corredor aberto no meio da população. E a assessoria alertava: neste local, era preciso evitar movimentos bruscos. Fotógrafos não deveriam erguer suas máquinas. Qualquer movimento suspeito poderia levar um sniper [atirador de elite] a abater o ‘alvo’. Uma jornalista voltou apavorada para a redação. Avisou à chefia que preferia não cobrir a posse. Não queria morrer. Foi convencida do contrário. Os organizadores da cerimônia também distribuíram orientações por escrito à imprensa: os jornalistas credenciados deveriam chegar ao CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil), no dia 1º, às 7 horas da manhã. Como é que é?  Era isso mesmo: embora a posse no Congresso estivesse marcada para as 15 horas, os jornalistas teriam que se concentrar desde cedo, embarcar nos ônibus às 8 horas, chegar no Congresso pouco depois e esperar, sem fazer nada, por mais de seis horas, para ver Bolsonaro entrar no parlamento”.

A jornalista completa: “era preciso levar lanche pois não haveria comida. Tudo precisava ser embalado em sacos de plástico transparente. ‘Garrafas não são permitidas. Haverá água potável disponível nas áreas de imprensa’, dizia o comunicado. Os veículos providenciaram kits de sobrevivência para seus profissionais. No caso da Folha, bolachas Club Social, biscoitos Bis, castanhas de caju, barrinhas de cereal, gomas de mascar, um sanduíche de queijo e salame e suco de caixinha”.

JORNALISTAS DA FRANÇA E CHINA ABANDONAM A COBERTURA DA POSSE

Do Twitter de Vicente Nunes, jornalista do Correio Braziliense:

Jornalistas da França e da China se rebelam e abandonam sala onde estavam confinados no Itamaraty. Disseram que não aceitariam ficar em cárcere privado até às 17h, quando seriam liberados para fazer registros da posse de Bolsonaro. Essa rebelião deveria ser geral.

Fonte: DCM