4.1.19

OS DEUSES DO MERCADO FINANCEIRO ESTÃO EM ESTADO DE GRAÇA

DANIEL MAZOLA –


É apenas o início, mas já foram dados alguns recados institucionais importantíssimos pelo novo governo, principalmente para o mercado e a classe trabalhadora. Paulo Guedes focou seu discurso na defesa da democracia liberal, em confronto com a chamada “social democracia” que governou o país nos últimos 30 anos.

Ficou definido que as medidas de grande impacto do governo Bolsonaro, que dependam de aprovação política, ficarão para fevereiro, depois da posse dos novos deputados e senadores. A principal intenção é reduzir a interferência estatal na vida dos brasileiros, privatizações entram na ordem do dia. A agenda econômica será fundada nos seguintes pilares: reforma da Previdência, privatizações, simplificação tributária, descentralização das receitas da União para os Estados e municípios e abertura comercial. O chamado Estado mínimo passa a vigorar, cortes e mais cortes virão.

A edição de 15 páginas do Diário Oficial da União, 1º de janeiro, apresenta "a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios". O governo Bolsonaro pretende priorizar a chamada reforma do Estado, dentro dela, a reforma no funcionalismo prevê redução do número de carreiras, diminuição dos salários de entrada e a possibilidade efetiva de demissão em caso de desempenho inadequado.

Vem aí à onda de terceirização de 33 serviços, incluindo jornalismo, cerimonial, secretariado, tecnologia da informação e certificação de produtos e serviços. Continuará a terceirização na limpeza, vigilância, conservação de imóveis, reprografia e motoristas. Deixaria de haver concursos públicos para tais carreiras.

Além da reforma estatal e da previdenciária, a prioridade de Guedes é promover uma grande abertura da economia brasileira. O plano é reduzir as tarifas de importação de bens de capital e diminuir as tarifas médias de importação do Brasil, muitas maiores do que 10%. Hoje, as importações correspondem a cerca de 10% do PIB, um volume considerado muito baixo.

Paulo Guedes pregou a “desjudicialização” das matérias tributárias e maior clareza destes temas na Constituição. A principal mensagem de Bolsonaro, direta, curta e objetiva: “Hierarquia, disciplina e respeito é o que fará do Brasil uma grande Nação”. Vão “desjudicializar” a política, a economia e, principalmente, as relações sociais, sob o pretexto que o Brasil necessita de uma democracia de verdade, com segurança legal, jurídica e individual. Nesse novo contexto, o Judiciário também passa a ser alvo da nova ordem.

Para milhões de brasileiros, Bolsonaro tomou posse como o sujeito que vai botar ordem na zona, para que o Brasil retome o caminho do progresso e da paz social. Os deuses do mercado financeiro estão em estado de graça. Até a Globo já dá sinais de que pode ficar amiguinha do governo ao qual ameaçara, menos Miriam Leitão que cumpre outro papel nesse joguinho de morde e assopra.

Só é bom deixar claro que o desafio de recuperar um verdadeiro projeto de Nação Soberana para o Brasil não é apenas do Presidente da República. A responsabilidade é de cada um dos cidadãos e eleitores, principalmente dos que têm capacidade para defender e colocar em prática uma Democracia real.