HELIO FERNANDES -
No dia 12 de dezembro de 1968, a Comissão de Constituição
e Justiça presidida pelo notável Djalma Marinho, se reuniu para cassar o
mandato do bravo Marcio Moreira Alves. Acontece que o Marcito foi absolvido, provocando
um tremendo pandemônio.
Os generais que acompanhavam a votação e tinham como
certo que a cassação seria consumada, derrotados, queriam resolver tudo no
mesmo dia, praticamente já à noite.
Numa das raras vezes que fui a Brasília, tenho que
incluir essa em homenagem ao meu grande amigo Djalma. Fui com Rafael de Almeida
Magalhães e assistimos ao espetáculo inesperado da derrota dos generais
torturadores.
Telefonaram para o general Costa e Silva, que estava no
Rio. Não atendeu nenhum telefonema, e deu ordens ao General Portela, chefe da Casa
Militar: "Só tratarei do assunto amanhã e estou convocando uma reunião
ministerial para amanhã às 9 horas da manhã".
Os Generais em Brasília ficaram furiosos mas tiveram que
atender a ordem do "Presidente". O AI 5 já estava pronto, mandado
redigir pelo Ministro da Justiça Gama e Silva. A reunião começou às 9 em ponto,
com todos os ministros presentes. Antes da hora do almoço já estava tudo decidido,
o AI 5 entraria em vigor com decisão unânime. Destaque para o voto do Coronel
Ministro Jarbas Passarinho: "Detesto dizer isso, mas voto a favor do AI 5
com plena consciência de que estou servindo ao meu país".
A caça às bruxas foi terrível. Quem estava em liberdade
foi preso imediatamente, o que aconteceu comigo. Fui levado para o Regimento Caetano
de Farias, onde já estava meu grande amigo jornalista Oswaldo Peralva, editor
do Correio da Manhã. Ficamos a noite toda conversando.
No dia seguinte, chegou Mario Lago, que estava
trabalhando no Teatro Princesa Izabel, seu personagem era um escocês e ele
estava com a roupa característica desse povo. Como existiam outros presos que
nós não conhecíamos, ele foi logo falando: "Aqui só quem me conhece é o Helio
e o Peralva, que já estiveram presos comigo. Eu estou com essa roupa, mas não
sou veado." (naquela época, há mais de 50 anos, a palavra gay estava longe
de existir). No dia seguinte, chegou o Carlos Lacerda.
Ficamos presos até o dia 6 de janeiro, Dia de Reis. Os
Generais eram torturadores, mas muito católicos, então mandaram nos soltar.