10.8.17

CONTRA O ENTREGUISMO HISTÓRICO

Por LUIZ EDMUNDO TAVARES - 



A Universidade do Estado do Rio de Janeiro, antes denominada Universidade do Distrito Federal e Universidade do Estado da Guanabara, fundada em 4 de dezembro de 1950, atravessa crise sem precedente na sua longa história.

A situação atual da UERJ reflete o desmonte do Ensino Público e gratuito no país, que vem se acentuando desde a década de 1960, época em que foram intensificadas, simultaneamente, a desvalorização gradual do Professor - cujos salários e condições de trabalho começaram a ser aviltados - e afetadas as redes de ensino público e gratuito de primeiro e segundo graus.

Ao desmonte do ensino público correspondeu o crescimento das denominadas “escolas particulares” e no que diz respeito à cidade do Rio de Janeiro, aprofundou a crise, estimulada pelos “grandes” meios de comunicação, que contribuem para disseminar a ideia segundo a qual “ o que é público não presta”.

A discussão então se resumiria ao seguinte: a Escola Pública e Gratuita teria baixa qualidade e a escola particular teria categoria superior, como se não existissem péssimas escolas particulares e escolas públicas e gratuitas de excelência.

O considerado “Ensino de qualidade” passou a ser caracterizado por um projeto pedagógico meramente informativo, que “prepara” o aluno – em todos os níveis – para concursos, contraditoriamente voltados à rede oficial, como os Colégios de Aplicação, Colégio Pedro II, Escolas Técnicas e Militares, além das Universidades Públicas e Gratuitas, que alimentam com seus “vestibulares” esse “negócio” extremamente lucrativo denominado Educação.

Observado esse contexto, entende-se perfeitamente a não encampação por partes dos governos posteriores, de Projetos responsáveis como o dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – proposto pelo Professor Darcy Ribeiro, desenvolvido no Governo Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro, da década de 1980.

O novo projeto educacional que privilegiava o “tempo integral” e as atividades complementares para os alunos, estabelecendo condições à formação integral do cidadão, não passou pelo crivo da conservadora e decadente classe média que não o adotou, assim como a classe política.

Mais uma vez foi adiada a execução de um Projeto Pedagógico sério, que traria consequências favoráveis ao Brasil, pois, a sociedade em qualquer país é imagem da sua concepção pedagógica.

E assim, durante décadas, desvalorizou-se a importância do Professor, inclusive sob o ponto de vista econômico.

Esse absurdo desmonte até então não atingia a Universidade Pública Gratuita e Socialmente referenciada, ou pelo menos a Instituição não o percebia.

Há cerca de 25 anos, em Congresso dos Estudantes de História realizado na Universidade Federal de Uberlândia, indagado sobre como a Universidade Pública deveria reagir ao ataque do pensamento neoliberal, respondi que o primeiro passo seria a própria Universidade considerar a hipótese de superar as suas contradições internas pois, naquele momento observava-se o afastamento da Instituição em relação à sociedade.

Apesar dessas contradições a UERJ cresceu, principalmente sob a administração do Professor Hésio Cordeiro (1992-1995), consolidando a sua principal característica histórica: Universidade voltada ao atendimento de demandas de alunos trabalhadores, com seus Cursos Noturnos, que levaram a incompreensão daqueles que a consideravam um “Escolão”.

A resposta da Universidade foi a sua colocação entre as melhores do país, apesar da gradativa redução de investimentos por parte dos governos estaduais, chegando-se ao impasse atual, do conhecimento de todos.

Outro aspecto de relevância é a política de apoio às Instituições Privadas de Ensino Superior, praticada pelo Governo Federal nos últimos decênios fazendo com que, com algumas exceções, afluam ao país grupos financeiros que fazem da Educação um negócio lucrativo que parece negligenciar a qualidade de ensino.

Cercado por tantos interesses a Universidade Pública e Gratuita agoniza, esperando que a sociedade a auxilie, pois a Instituição é propriedade do povo brasileiro que a sustenta e exige melhor interação com as mesmas devendo ser defendida contra qualquer tentativa de privatização, já sugerida através de noticiário e editoriais em jornais de significativa circulação.

Efetivamente, apesar da circunstância adversa, a UERJ resiste, mercê de sua Comunidade onde Funcionários Docentes, Técnico-Administrativos, Discentes e ex-Alunos reagem à criminosa ofensiva praticada pelas sucessivas administrações estaduais, com ênfase para as duas últimas. O embate que no momento ocorre, por certo concorrerá para maior unidade na comunidade acadêmica, integrando à luta personagens que até então se consideravam inatingíveis, aparentando excessiva vaidade que se “dissolve no ar”.

Cabe a todos a luta pela manutenção da Universidade Pública, Gratuita e socialmente referenciada; das políticas afirmativas que podem mudar a face autoritária e conservadora do país, tornando-o menos desigual; dos projetos de extensão e pesquisas, tão necessários e do indispensável regaste do Ensino Público e Gratuito em todos os níveis.

Concluindo, registramos que os acontecimentos recentes, sem mobilizações expressivas da população em favor dos setores atingidos pela incúria da administração pública, impõe intensa reflexão sobre a necessidade de maior aproximação, inclusive da Universidade, em relação àqueles que por desconhecimento ou por não acreditarem na importância do Ensino, Pesquisa e Extensão, possivelmente considerem dispensáveis as Instituições de Ensino Público, Gratuito e Socialmente Referenciado em todos os níveis.

* Via e-mail. Luiz Edmundo Tavares, professor do Departamento de História da UERJ. Professor aposentado da Rede Pública Municipal.